Em muitos momentos de nossas vidas passamos por pensamentos que variam entre o
que cremos e o que realmente acontece.
Se por questões de fé ou de cultura deixamos nos levar por pensamentos e ações
que em outros momentos nossas crenças não suprem as necessidades do “ser” e
deixamos nos levar pelas variáveis da vida sem a cautela sobre nossos
pensamentos e ações.
Quando Aristóteles fez suas considerações sobre o fato de que cada coisa teria seu
“Lugar Natural” creio que ele não estava dizendo isso com a certeza de quem
sabe e sim uma tentativa de incentivar as pessoas a dialética de suas teses
para que se apresentem a antítese, e com isso fosse construída a síntese da
descoberta sobre a real natureza das coisas, mas a audácia promoveu um devaneio
completo da ideia e do desejo filosófico, quando com o passar do tempo se tomou
tal principio como sendo o conhecimento do próprio Deus!
O “Lugar Natural” por séculos findou o conhecimento humano sem ser questionado,
os poucos que assim o fizeram foram condenados, antes mesmo de Galileu Galilei
questionar sobre o movimento dos corpos outras pessoas também questionaram o
modelo Aristotélico, mas sob a pressão e a autoridade da igreja muitos se
calaram, como Kepler que escondeu por muito tempo suas descobertas, o
conhecimento humano ficou limitado ao conhecimento de uma autoridade imposta
por um respeito ilusório, havia então uma verdade que só era verdade por imposição e
medo de punição.
Mas nem todos temeram o respeito imposto, e Galileu foi um dos poucos que
tiveram a audácia de tirar a Terra do centro do Universo e colocá-la no seu
devido lugar, no lugar de um planeta qualquer viajando juntamente com uma
estrela qualquer na vastidão do nosso imenso Universo. Como se isso fosse uma
heresia a própria fé, Galileu foi condenado ao exílio em sua casa, mas antes de
sair para cumprir sua condenação ele simplesmente disse:
- No entanto se move!
Se referindo ao movimento da Terra entre outros planetas.
A credibilidade não era de fato a crença em algo real, em coisas que são
prováveis, e sim apenas em crenças que somente por serem aceitas e até impostas
pela maioria se calava para o novo, a fé muitas vezes é alvo de incredibilidade
por sua estagnação no conhecimento como sendo obrigatório ao homem que seu
conhecimento se limite as crenças vagas e sem um fundamento próprio com o real, e assim o mundo vagou no sofrimento e no apego a vaidade do imutável, a ponto
de deixar as pessoas morrerem por ignorância com sua própria higiene; a peste
negra assolou o mundo, a morte de tantos foi causada por causa da incompreensão
de sua transmissão por uma simples pulga.
Ignaz Semmelweiss foi o primeiro homem há impor, por suas observações, o
cuidado com a higiene, como obstetra ele acreditava que as doenças poderiam ser
transmitidas pelo contagio direto ao contato, no entanto seu conhecimento ainda
estava além de sua própria compreensão da existência dos micróbios e os
microrganismos que causavam as doenças, suas técnicas por incompreensão de
muitos eram duramente criticadas. Durante sua vida ele lutou para ser
compreendido, porém a incredulidade de sua doutrina ficou comprometida por
disputas de poderes e insatisfação dos médicos da época, por não se acharem
culpados do contagio, havia a crença que os médicos com seus uniformes sujos de
fluidos corpóreos, como pus e sangue, eram vistos até com certo status, que indicava
que eram estudantes de medicina aplicados, com isso muitas mulheres morriam de Febre
Puerperal.
Mesmo nos dias de hoje não é difícil ver casos de morte em hospitais pelo
simples fato da falta de cuidado com a higiene, pessoas mesmo com luvas podem contaminar ao pegar em maçanetas e transmitirem qualquer tipo de doença.
Vemos então, através da história, que a incredulidade para com a verdade leva
ao homem seu próprio falecimento, então vem à questão:
- Será que a falência das leis e da ordem,
o desencontro das famílias que se desfazem pelos vícios, traições e até pelas
ambições e paixões egoístas que vem destruindo os valores humanos, são causados
por nossa ignorância?
O fato de podermos viver num mundo cheio
de cultura, no sentido culto mesmo, para criar tudo que vemos como nossas
roupas, casas, carros, aparelhos eletrônicos de todos os tipos e etc... Onde
cada cidadão pode participar desta ciência de construção do nosso mundo mesmo
sem um conhecimento profundo do potencial exigido para essa construção, nos
leva constantemente ao relaxamento de nosso potencial; seguimos no mundo
incultos do nosso próprio existir, nos enchemos de conhecimento profissional,
mas nos deixamos ocos do conhecimento de nosso próprio ser.
Se por um lado fazemos isso por falta de
uma cultura humana que tenha sido cientificamente comprovada, por outro lado
nos fazemos incautos em abraçar as crenças sem um questionamento mais profundo,
então queremos justiça sem ao menos saber o que é justo, queremos paz sem dar de si mesmo a sua própria paz e queremos viver sem o conhecimento do nosso
próprio existir, seguimos a vida assim:
Incrédulos no poder da consciência,
incultos de nós mesmos e incautos quanto ao que temos para realmente crer.
Mas por fim de tudo sempre acreditamos que
há um modo certo de agir e pensar, os nossos gurus do passado, sejam: Jesus,
Buda, Maomé, Moisés, Ghandi entre outros, são os mentores nos quais as paixões
humanas são geralmente dirigidas, no entanto como ainda temos nossas
incredulidades, nossas dúvidas quanto ao que temos para cultuar e nosso amargo
ser incauto do nosso próprio viver, toda a filosofia do passado é distorcida e
rearranjada para o nosso bem entender atual e seguimos em frente, crendo que
nossos pequenos rituais podem compensar toda nossa incompreensão de nossa
própria existência.
Então nos mantemos cegos para as questões que deveriam ocupar nossos
pensamentos e findar nossas ações, para uma busca de um encontro com o nosso
verdadeiro existir, nos apegamos às frases prontas como:
- Ninguém é santo neste mundo!
- Ninguém é capaz de conhecer a verdade!
- Ninguém sabe mais que Deus!
- Ninguém tem o direito de julgar... Ninguém é de ninguém...
E assim seguimos sempre achando que ninguém pode mudar as coisas, mesmo que
todos desejem viver uma mudança!
É como querer enxergar no escuro, ou seguir na chuva sem se molhar!
Se não dá pra ninguém ser perfeito, então por que exigimos a perfeição em tudo
que nos rodeia?
E o mais interessante é que tem tantas coisas perfeitas a nossa volta, mas só
reparamos e falamos das coisas imperfeitas, de nossos amigos de trabalho que
não se empenham, da fechada que alguém lhe deu no transito, da comida que não
estava tão boa quanto a de ontem... E assim seguimos com nossa atenção voltada
para o que não queremos, e deixamos de lado a nossa busca pelo conhecimento do
que é ser um bom ser humano no sentido mais humano que esperamos de todos, pelo menos em nós mesmos que pensamos estar concisos e seguros, mas apegados em nossas imperfeições!!!
Seguimos então assim: incrédulos, incultos e incautos só para reclamar o
direito à estagnação. Será que vale a pena viver assim?
Ou o que vale mesmo é a nossa busca pelo
que ainda não sabemos?
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