quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Das Relações Humanas

Do individuo!

            Por volta de 1992 eu trabalhava de vendedor na Avenida São João, esquina com a Don José de Barros em São Paulo Capital, e de frente desta loja eu e outros vendedores pudemos acompanhar a vida de um casal de mendigos que sempre viviam por lá. Por cerca de dois anos seguidos vimos aquele casal que mesmo vivendo em um estado de extrema pobreza pareciam muito felizes um com o outro, até suas afeições eram muito semelhantes e estavam sempre sorrindo trocando caricias e se beijavam freqüentemente.
           
            Certo dia eles estavam sentados juntos com outros mendigos dividindo um marmitex e ele estava com o marmitex na mão dele e ela foi pegar uma coxa de frango e ele pegou primeiro, ela tentou puxar a mão dele para dar uma mordida e ele virou para o outro lado, ignorou-a, sem trocar uma palavra como se fosse um neandertal, ela triste baixou a cabeça, outro mendigo que estava ao lado ofereceu uma cocha de frango pra ela e ela voltou a sorrir e começaram a conversar daí em diante seu novo companheiro passou a ser o novo gentil cavalheiro que lhe ofereceu a coxa de frango!

           Na hora rimos da situação, mas depois a lembrança daquela cena que vimos foi nos deixando chocados com o que ocorreu. Por muito tempo após nós vimos ainda o novo casal juntos de mãos dadas e o outro que perdeu a namorada por um simples ato de egoísmo sozinho, solitário, andando nas ruas atrás de pontas de cigarros e de latinhas!


   
       Por muito tempo falamos sobre aquele fato ocorrido e pensamos sobre os valores das relações humanas.

            Pode parecer uma atitude até bizarra de quem vive em um estado de extrema pobreza, mas o que dizer de pessoas ricas que se separam por morarem em estados diferentes e por manterem seus negócios em outros lugares, ou preferem seguir a carreira profissional com o fim da relação, do que ter sua família?

            E o mais intrigante é que por anos eles conseguem manter a relação, terem filhos e em algum momento a situação profissional se torna mais importante do que toda relação amorosa, do fato de terem filhos juntos, de todos os laços familiares construídos...

Do Coletivo!

            Em 2006 eu descobri o famigerado Orkut, e fiquei maravilhado com a ideia de poder compartilhar idéias com pessoas distantes, ter a liberdade de falar sobre qualquer assunto, participar de discussões e criar comunidades, tópicos... Enfim era a recriação da Eclésia da Grécia antiga na era moderna. 

         O grande problema foi que em meio a tanta liberdade, com todos tão livres para criar comunidades, tópicos e tudo mais, todos procuravam validar somente seus argumentos e atitudes, todos lutando pela própria apresentação de seu grande e estimado ego, não havia um real interesse em busca de ideais que pudessem servir de base para sociedade como um todo, eu mesmo tentei debater idéias como a coleta seletiva do lixo com o tópico Atitude Colorida imaginando que a ideia pudesse ser debatida com interesse de todos, mas sempre aparecem aqueles que pra tentar se destacar ou sei lá porque, buscavam desvalidar uma ideia seja ela qual for, por um simples erro de ortografia, a falta de uma vírgula ou de um acento, eu chamava estes de “Caçadores de Pormenores”, pois estavam sempre querendo zombar dos erros dos outros  'por menores' que fossem estes erros,  outros sempre vinham com idéias de que tudo deve ser feito pelo governo...

            Parece que ninguém percebeu que ali estava uma grande ferramenta para ser usada na construção de uma nova forma de governar, que nada mais é, do que a tão fadada Democracia onde todo o poder emanaria do povo, ali tínhamos uma grande forma de moldar o poder, emanar o que o povo realmente deseja e precisa do trabalho dos governantes.

            Então, toda a discussão que era proposta para ser debatida, deixava de ser de interesse de todos e passava a ser uma disputa do ego de poucos.

        E parece que alguém notou isso!

            Que o desejo de todos era nada mais, nada menos, do que exibir o próprio ego e brilhantemente quem descobriu isso, deu a isso a cara que realmente tinha, até nomeou de “FACEBOOK” o livro da face de cada um, e com isso o Orkut como ferramenta para ser usada por todos caiu em desuso, para que cada um e individualmente tenham em suas mãos a sua própria ferramenta e usem como bem entendam!

            O Facebook é hoje usado por muitas pessoas como se fosse um imenso restaurante e todos de todas as classes podem entrar e exibir o que comem o que vestem o que fazem o que compram, onde trabalham, pra onde viajam... E como num restaurante cada um olha pra mesa do outro vê o prato que o outro come, como se veste e se porta e como num restaurante onde as pessoas vão para um encontro social, mas acabam mesmo cada um na sua mesa, com o seu prato e o seu ente convidado, entram, comem conversam um pouco olham os outros e por fim saem!

            E assim é a relação social que estamos vivendo hoje!

O Que Restou!

            Este ano de 2013 foi marcado pelo grande movimento social nas ruas.

            Mas o que é que todos queriam?

            Por fim o que restou mesmo foi: NADA!

            Temos um mundo novo para todos, cheio de possibilidades e ao mesmo tempo com um grande NADA se fazendo a cada momento, a cada dia.

            O modo que o ser humano está se relacionando com o mundo e consigo mesmo está deixando todos á beira de um grande abismo, estamos cada vez mais sensíveis aos fatos e invisíveis há querer causar uma mudança na ordem que a vida se move.

            Estamos todos distintos em si e indistintos aos outros, como no caso do nosso casal de mendigos que embora tivessem laços fortes de amor e companheirismo não havia uma distinção do que isso representaria em atitudes para manter essa união e bastou um simples ato para que tudo fosse desfeito.

            E assim as relações humanas acabam se perdendo em sentimentos que nos levam a ações de comoção coletiva ao mesmo tempo, nem ao menos sabemos o que queremos ou nos propomos a fazer em nós mesmos a mudança que queremos ver.

Copiar e Colar

            Konrad Zacharias Lorenz foi um cientista que em seus estudos tinha grande interesse na observação e no comportamento dos animais.

         Em sua pesquisa mais famosa ele incubou e observou o comportamento de gansos que assim que nasciam ao ter o primeiro contato com o primeiro ser que viam o seguiam e observavam seu comportamento. Os recém nascidos gancinhos ao sair do ovo adotaram o próprio Lorenz como sendo sua progenitora.

            Isso ocorre porque a natureza, não só dos gansos, mas de todos os seres, tem sua faze inicial de existência de modo simplificado, pois o ser precisa crescer e se adaptar ao meio em que vive, agir e interagir com o ambiente e de certa forma se harmonizar com as funções do seu próprio existir, então o que chamamos de instinto trata-se na realidade dos mecanismos naturais para que o ser ao longo de sua existência reconheça seu próprio ser, as funções que deve realizar para o desenvolvimento e manutenção do seu próprio existir e quais são as interações que devem ser reconhecidas com o mundo que o cerca. Assim a natureza não fornece ao gancinho como é a sua mamãe, apenas lhe diz que assim que ele sai do ovo a mamãe que passou o tempo todo chocando os ovos tem grandes possibilidades de estar lá no momento em que o gancinho sai do ovo, sendo assim o ser mais próximo é então a mamãe.
           
            Lorenz com a função de mamãe dos gancinhos passou a adaptá-los ao meio lhe mostrando o que os jovens gancinhos deveriam fazer para sua própria sobrevivência.

            Este estudo ganhou o nome de Etologia e mostra que somos seres copiadores e imitadores do meio em que vivemos.

            No geral este estudo se baseia em 5 princípios:

  1. O que causa?
Certamente as causas para o comportamento de cada um de nós estão diretamente ligadas ao comportamento de todos nós. Por isso ao ver uma pessoa que ao agir estupidamente parece gerar nos outros seres uma forma de prazer e satisfação, faz com que o comportamento estúpido seja imitado por todos. Geralmente isso acontece muito no comportamento escolar, onde as pessoas diante do mestre buscam defender sua ignorância com agressividade e o mestre por não revidar a atitude com o mesmo ímpeto acaba passando aos demais uma imagem de fraqueza.
Então para não sermos fracos imitamos a estupidez que em um primeiro momento nos trás certa vitalidade e empenhamos então nossas energias na agressão há aquele que representa fraqueza.

  1. Qual a função?
Obviamente a função disso é nos tornar forte imitando o comportamento do agressor. Por isso os mais estudiosos parecem ser os mais agredidos, já os mais estúpidos parecem cercados de amigos que sempre estão ali em função de observar o agressor, como a agressão acaba sendo regozijada por todos, a ênfase leva o ser a repetir este padrão de comportamento e neste caso, repetir isso nas redes sociais acabou destruindo a finalidade da própria razão do ser em estar em sociedade com seus semelhantes.

  1. Como se desenvolve?
Não nascemos com todas as funções de nossa própria personalidade, assim como os gancinhos que não estão cientes que eles são gansos, assumimos a personalidade do ser que está mais próximo, então desenvolvemos padrões de comportamento que embora seja um comportamento ruim não empenhamos nossa mente em distinguir já que a distinção traria ao ser a critica sobre o ser mais próximo e também sobre si mesmo.

  1. Como evolui?
Isso faz com que o ser passe a buscar evoluir os padrões de comportamento que em primeiro momento leva o ser a satisfação, portanto ao ver um aluno em estado de agressividade com o seu mestre e neste momento todos acham tal comportamento engraçado, imitar este padrão como imprinting (cunhar, carimbar) é de certa forma estar em um estagio evolutivo de maior satisfação, e este padrão de comportamento se repete nas redes sociais.
  1. E o quanto pode modificar!
Isso é visível principalmente aos pais que ao ver seus filhos em período escolar começa a perceber mudanças no padrão de comportamento e neste período se os pais simplesmente ignorarem ou não fornecer a sua prole a capacidade de senso critico sobre as mudanças que se vem notando, o comportamento que vem se cunhando passará a fazer parte do caráter de seus filhos.




Humanamente Relacionando

            As manifestações vividas no Brasil neste ano de 2013 é em suma um imenso compendio desta relação do nosso ser com o nosso próprio ser animal.

            Só aprendemos a ter certas relações humanas por uma necessidade de ter de trabalhar com o outro ser humano e nesta relação estamos sempre em estado de defesa do nosso ego, por ele ter se cunhado ao longo da vida sem um censo realmente humano,e por isso vemos pessoas reivindicando responsabilidades que por fim são suas próprias necessidades de serem honestos, de terem e agirem para o bem de sua própria saúde, de se sentirem seguras sem a necessidade de ter alguém fardado e armado, pronto para agir, em caso de algum de nós ultrapassarmos os limites do respeito ao próximo sem a obrigação de ser assim só pra garantir um bom sucesso profissional, precisamos mesmo é aprender a criticar, não o mundo a nossa volta, mas a criticar o nosso mundo interno, somos racionais e devíamos usar esta capacidade para olhar sobre nosso próprio agir e ver o quanto somos nós mesmos aquilo que não queremos ser.

            Mas por fim seguimos os passos dos outros que em primeiro momento são os primeiros passos que vemos, como gancinhos que acabaram de sair do ovo, seguimos as botas sem olhar para nossos próprios pés e vermos que o que realmente queremos ser, está em identificar em nós mesmos o nosso ser, se estamos sendo estúpidos com os outros buscar entender por que agimos assim?

            Que mal está em olhar para si mesmo e reconhecer a própria ignorância?

            Quando todos passarem a defender e a aplaudir e se alegrar com as ações realmente humanas no sentido de caráter do bem, em evolução real para termos mesmo um mundo melhor estaremos então manifestando em nós a mudança que queremos ver para com todos.

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